Natal
para sentir o sentido da vida
“A humanidade é uma grande família. Somos todos irmãos e
irmãs: fisicamente, mentalmente e emocionalmente. Mas, ainda nos concentramos
demasiadamente em nossas diferenças em vez de nossas semelhanças. Mas, no
final, cada um de nós nasceu da mesma maneira e morrerá da mesma maneira.” Dalai Lama.
“Pois em ti está a fonte da vida; graças à tua luz, vemos
a luz.” Salmos
36:9.
Com o
advento do Natal expressamos a todos o nosso sincero convite: com gratidão comemoremos a vida que
recebemos e a amizade que partilhamos.
Com
este convite desejamos a realização de um sentido para além do comum e que
nasce de um gesto radical: a coragem
de amar a existência a tal ponto que não seja
mais possível passar por ela sem perseguir, a cada dia, aquilo que a torna
profundamente significativa.
Desejar
a vida no maior grau possível de nossas forças: eis o nosso ponto de partida e
de chegada, a fonte que faz do amor o nascedouro da coragem espiritual de ultrapassar
os nossos limites. Para que, desse modo, faça sentido viver e fazer jus à
dádiva de participar da vida de todos aqueles que amamos. Pois, não há sentido
em ser feliz sozinho. Por isso, que o desejo de felicidade nos mova ao encontro
de quem amamos, e que esse encontro seja o reconhecimento da nossa irmandade.
Que
neste Natal partilhemos o desejo de ampliar a nossa potência de amar. De amar
para agir, agindo por amor.
Que reconheçamos
a humanidade como o nosso berço e sejamos dignos de agradecer a este imenso presente:
estar aqui, neste planeta, participando desta imensa Vida que nos cerca.
Que no tempo
que partilharmos durante o ano vindouro, como crianças que brincam, suficiente
sabedoria nos permita tornar cada partida, cada torneio, cada encontro
intelectual da arte e ciência do xadrez, uma oportunidade para comemorar a
presença de seres humanos, para que aprendamos a ver o tempo-relógio como apenas
um simulacro do tempo real de vidas partilhadas em amizade, e a cada adversário
como um mestre.
Em
profundo silêncio o viver anuncia um mistério. Este é um convite para que,
juntos, conquistemos a humilde coragem de sentir o mistério que impregna as
nossas existências, não mais apenas como vertigem ou indagação, mas como resposta. Uma resposta infinita, tecida
de beleza tal que requer, que exige a partilha para ser efetivamente vivida.
Que
possamos, juntos, sentir que habitamos o
mistério, que fazemos parte de algo imensamente maior que nós mesmos, do
nascimento à morte, e ainda além. Para reinaugurar o viver a cada dia, a cada
momento, em cada gesto e pensamento, na alegria dos nossos encontros, e em
profunda gratidão. O caminho da compaixão revela uma epifania em cada rosto que
de nós se aproxima.
Sentir juntos é o modo como o amor vem à existência. Juntos, o reinstauramos no cerne de nossa
morada comum. A sensibilidade ao mistério
de existir, de estar aqui e agora, em presença de outros
seres humanos, é a luz que permite ver que o invisível é o plano comum de
nossas mentes. A sensibilidade que se dobra diante da presença do Ser,
atravessa-nos ao impregnar cada aspecto daquilo que, no limite, indicia a
instauração de um sentir e pensar que transborda em sentido.
Escute.
Há mistério e silêncio no derredor, em toda parte; e há, sim, um mistério e um
silêncio ainda maior, que se distende a partir deste. Escute o seu próprio
viver. Há aqui um sentir em transcendência vívida, e que permanece aquém e além
de qualquer possibilidade de ser contida em palavras. A condição mistérica do humano é um conhecimento que não
necessita de razões, mesmo que as
razões e conceitos e todas as lógicas possíveis possam ampliar a potência de
expandir o silêncio em direção ao inesperadamente Belo. Pois, toda indagação ou
resposta sobre o viver deve ser vivencialmente intensa para ter sentido. E remete
à coragem de viver, conquistada por amor.
Este é,
pois, um convite para que, juntos,
possamos sentir a responsabilidade de
existir, para que aprendamos a responder à altura através de cada
pensamento, sentimento, palavra e ação. Eis um caminho a ser reinventado por
cada ser humano no percurso da construção de sentido de sua vida, sabendo que se trata, porém, e mais amplamente, do sentido
das nossas vidas. Para aprenderemos a
amar inclusive a vida que permanecerá após as nossas breves existências.
Há um silêncio último, de todo indizível, a
escutar.
Texto de Autoria de Sérgio Augusto Sardi