segunda-feira, 17 de dezembro de 2018


Natal para sentir o sentido da vida

“A humanidade é uma grande família. Somos todos irmãos e irmãs: fisicamente, mentalmente e emocionalmente. Mas, ainda nos concentramos demasiadamente em nossas diferenças em vez de nossas semelhanças. Mas, no final, cada um de nós nasceu da mesma maneira e morrerá da mesma maneira.” Dalai Lama.

“Pois em ti está a fonte da vida; graças à tua luz, vemos a luz.” Salmos 36:9.

Com o advento do Natal expressamos a todos o nosso sincero convite: com gratidão comemoremos a vida que recebemos e a amizade que partilhamos.
Com este convite desejamos a realização de um sentido para além do comum e que nasce de um gesto radical: a coragem de amar a existência a tal ponto que não seja mais possível passar por ela sem perseguir, a cada dia, aquilo que a torna profundamente significativa.
Desejar a vida no maior grau possível de nossas forças: eis o nosso ponto de partida e de chegada, a fonte que faz do amor o nascedouro da coragem espiritual de ultrapassar os nossos limites. Para que, desse modo, faça sentido viver e fazer jus à dádiva de participar da vida de todos aqueles que amamos. Pois, não há sentido em ser feliz sozinho. Por isso, que o desejo de felicidade nos mova ao encontro de quem amamos, e que esse encontro seja o reconhecimento da nossa irmandade.
Que neste Natal partilhemos o desejo de ampliar a nossa potência de amar. De amar para agir, agindo por amor.
Que reconheçamos a humanidade como o nosso berço e sejamos dignos de agradecer a este imenso presente: estar aqui, neste planeta, participando desta imensa Vida que nos cerca.
Que no tempo que partilharmos durante o ano vindouro, como crianças que brincam, suficiente sabedoria nos permita tornar cada partida, cada torneio, cada encontro intelectual da arte e ciência do xadrez, uma oportunidade para comemorar a presença de seres humanos, para que aprendamos a ver o tempo-relógio como apenas um simulacro do tempo real de vidas partilhadas em amizade, e a cada adversário como um mestre.
Em profundo silêncio o viver anuncia um mistério. Este é um convite para que, juntos, conquistemos a humilde coragem de sentir o mistério que impregna as nossas existências, não mais apenas como vertigem ou indagação, mas como resposta. Uma resposta infinita, tecida de beleza tal que requer, que exige a partilha para ser efetivamente vivida.
Que possamos, juntos, sentir que habitamos o mistério, que fazemos parte de algo imensamente maior que nós mesmos, do nascimento à morte, e ainda além. Para reinaugurar o viver a cada dia, a cada momento, em cada gesto e pensamento, na alegria dos nossos encontros, e em profunda gratidão. O caminho da compaixão revela uma epifania em cada rosto que de nós se aproxima.
Sentir juntos é o modo como o amor vem à existência. Juntos, o reinstauramos no cerne de nossa morada comum. A sensibilidade ao mistério de existir, de estar aqui e agora, em presença de outros seres humanos, é a luz que permite ver que o invisível é o plano comum de nossas mentes. A sensibilidade que se dobra diante da presença do Ser, atravessa-nos ao impregnar cada aspecto daquilo que, no limite, indicia a instauração de um sentir e pensar que transborda em sentido.
Escute. Há mistério e silêncio no derredor, em toda parte; e há, sim, um mistério e um silêncio ainda maior, que se distende a partir deste. Escute o seu próprio viver. Há aqui um sentir em transcendência vívida, e que permanece aquém e além de qualquer possibilidade de ser contida em palavras. A condição mistérica do humano é um conhecimento que não necessita de razões, mesmo que as razões e conceitos e todas as lógicas possíveis possam ampliar a potência de expandir o silêncio em direção ao inesperadamente Belo. Pois, toda indagação ou resposta sobre o viver deve ser vivencialmente intensa para ter sentido. E remete à coragem de viver, conquistada por amor.
Este é, pois, um convite para que, juntos, possamos sentir a responsabilidade de existir, para que aprendamos a responder à altura através de cada pensamento, sentimento, palavra e ação. Eis um caminho a ser reinventado por cada ser humano no percurso da construção de sentido de sua vida, sabendo que se trata, porém, e mais amplamente, do sentido das nossas vidas. Para aprenderemos a amar inclusive a vida que permanecerá após as nossas breves existências.

Há um silêncio último, de todo indizível, a escutar.
Texto de Autoria de Sérgio Augusto Sardi